Depois de 40 anos de vida pública, inspirada no pai e sedimentada na postura conciliadora como legislador e ministro, o ex-deputado federal Mendes Ribeiro (PMDB-RS), de 60 anos, morreu na madrugada deste domingo (10) em Porto Alegre. Ele estava internado no Hospital São José da Santa Casa de Misericórdia. Ele será velado na Assembleia Legislativa até às 18h. Depois, cremado no Crematório Metropolitano, às 20h, em uma cerimônia reservada da família.
A presidente Dilma Rousseff enviou uma nota à imprensa lamentando a morte de Mendes Ribeiro Filho. Ela escreveu que o político era “um amigo leal e um político sempre pronto para o diálogo e a tolerância”. Leia a nota completa:
“É com imensa tristeza que recebi a notícia da morte do meu amigo, ex-ministro Mendes Ribeiro. Hoje é um dia triste para todos nós que lutamos, como Mendes Ribeiro, pela democracia e por um país mais justo e menos desigual. É com dor que sinto sua partida. Meus sentimentos à dona Fernanda, aos filhos e amigos. Mendes era um amigo leal e um político sempre pronto para o diálogo e a tolerância”.
A carreira política
Nomeado ministro da Agricultura do governo Dilma Rousseff, em 2011, quatro anos após retirar um tumor do cérebro, afastou-se da função em março de 2013 devido ao ressurgimento do câncer. Em abril de 2014, pediu aposentadoria por invalidez na Câmara, impossibilitado de exercer o mandato.
Mendes ingressou na política em 1974, como militante do MDB. Aos 28 anos, filiado ao PDS, assumiu o primeiro mandato, como vereador da Capital, em 1983. Na carreira, sempre teve como inspiração o pai, Mendes Ribeiro, também político e jornalista, morto em julho de 1999.
– Tenho o meu pai sempre comigo. Em qualquer situação, lembro de uma determinada fala dele para mim, com conselhos – disse em 2002.
Porto-alegrense, Mendes costumava dizer que cresceu em uma redação de jornal, viveu a juventude em um estúdio de TV e a maturidade no plenário.
Das lembranças negativas, guardava uma mágoa. Em 1994, foi noticiado um suposto rompimento entre ele e o pai. O motivo teria sido a vitória de Antônio Britto sobre Mendes Ribeiro (o pai) na disputa interna do PMDB para definir quem concorreria ao governo do Estado. Espalhou-se o boato de que “Mendinho”, como era conhecido, teria ficado contra o pai.
– Isso não era verdade, mas o boato me magoou muito – repetia.
“Muito a aprender”
Ao assumir como ministro da Agricultura, em 2011, foi alvo de críticas. Ele mesmo admitia que não tinha experiência. Tomara posse em agosto como solução rápida para a saída de Wagner Rossi por suspeitas de corrupção. Usou o humor para sobrevalorizar o ministro que saía, ao mesmo tempo em que se investia de humildade para o que seria seu último grande desafio na vida pública:
– Tenho muito o que aprender. E quero aprender com Rossi.
Era o perfil de Mendes. Um conciliador. Mesmo quando era preterido dentro do PMDB, evitava caracterizar uma insurreição.
Tinha prazer em “gastar sola do sapato”. Fez uma carreira assentada em viagens pelo Interior. Não por acaso, quando foi chefe da Casa Civil de Britto, boa parte de sua equipe era formada por prefeitos e ex-prefeitos.
Em 2010, uniu-se oficialmente a Fernanda, advogada com quem morava na Capital. Era ela quem cuidava dos medicamentos e do tratamento a que estava submetido. O ministro deixa três filhos. Um deles, Pablo, é atual suplente de vereador em Porto Alegre pelo PMDB.
Amizade acima das divergências
Mendes Ribeiro não teve receio de nadar contra a maré. Por uma relação de amizade de décadas
– E até, por que não, algum senso de oportunidade –, decidiu apoiar Dilma Rousseff para presidente em 2010 quando todos os líderes do PMDB gaúcho faziam campanha para José Serra (PSDB).
O carinho por Dilma advém das relações de afeto com o ex-deputado Carlos Araújo, ex-marido da presidente. No segundo semestre de 2010, o então deputado passou dificuldades para apoiá-la. O auge se deu em 14 de outubro, no Hotel Everest, quando ouviu vaias ao tentar defender seu ponto de vista no encontro que definiria os rumos do PMDB no segundo turno.
Mendes também foi criticado por sua atuação como coordenador da campanha de José Fogaça ao Piratini – derrotado por Tarso Genro no primeiro turno em 2010. Depois, já como ministro de Dilma, voltou a ser visto com bons olhos no PMDB estadual, que chegou a cogitar seu nome para disputa ao Piratini em 2014.