Comunidade, lugar da experiência com o Ressuscitado
Minha saudação a todos os irmãos e irmãs que acompanham a Voz da Diocese. A Páscoa nos revela que “Deus ressuscitou Jesus” (At 2,24), vencendo a morte. Este acontecimento é central em nossa fé. A Páscoa nos diz, portanto, que a vida venceu; ela é mais forte do que a morte. Por isso, de tão importante que é a Páscoa, ela é celebrada não apenas em um domingo, mas ao longo de todo o Tempo Pascal, que se estende até a Festa de Pentecostes.
Este Segundo Domingo da Páscoa foi instituído por São João Paulo II como o Domingo da Divina Misericórdia. O Papa Francisco nos lembrava, há pouco tempo atrás, que a misericórdia é um dos principais atributos de Deus. Deus é essencialmente misericordioso. É isso que a Sagrada Escritura diz. O Salmo responsorial deste domingo convida-nos a confiarmos em Deus, pois “Eterna é a sua misericórdia” (Sl 118,2). Assim, o Tempo Pascal é um forte convite a incorporarmos a misericórdia como princípio de vida a orientar nossos passos, nossas relações. O Domingo da Misericórdia também recorda-nos o valor e a importância de viver a paz e o perdão.
Prezados irmãos e irmãs. O Evangelho deste Domingo (Jo 20,19-31) relata os primeiros encontros do Cristo ressuscitado com os discípulos. O relato inicia situando o momento do encontro: foi “à tarde daquele dia, o primeiro da semana” (Jo 20,19). É o dia em que começa a “nova criação”, isto é, o dia da ressurreição, o dia da nova Páscoa, do novo êxodo. Os discípulos estavam com as “portas fechadas”, pois o ambiente era de medo, hostilidade, insegurança. O anúncio de Maria Madalena – “Eu vi o Senhor” (Jo 20,18) – não os havia libertado do medo da perseguição. Isto mostra que não basta “saber” que Jesus ressuscitou, é preciso “fazer a experiência” do encontro com o ressuscitado. É o encontro com Ele que dá força e encoraja para a missão, para enfrentar os medos.
Ao colocar-se no “meio deles” (Jo 20,19), Jesus cumpriu sua própria palavra, dita na Última Ceia: “Não vos deixarei órfãos, voltarei convosco” (Jo 14,18). O seu anúncio é de “paz”: “A paz esteja convosco” (Jo 20,19). É a saudação daquele que venceu o mundo. A paz é o anúncio, o desejo do Cristo ressuscitado a todos. Ao mostrar-lhes “as mãos e o lado” (Jo 20,20) indica que é o mesmo que estava antes com eles. São os sinais do seu amor e da sua vitória. Mostra-lhes, com isto, que por eles havia entregado a vida e Deus o ressuscitou. Por isso, suas palavras de paz são verdadeiras, são o testemunho de alguém que dá a vida. Assim, a presença do ressuscitado é motivo de grande alegria. Os discípulos foram desafiados a abrirem-se à fé, a saírem do medo, abraçarem o projeto do ressuscitado.
Jesus apresentou-se como o enviado do Pai e enviou os discípulos para continuarem a sua missão: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20,21). A missão dos discípulos deverá ser cumprida como ele a cumpriu. Depois de enviá-los, soprou sobre eles o “Espírito Santo” (Jo 20,22), capacitando-os e encorajando-os para a missão. Jesus infundiu-lhes o seu “alento de vida”, o seu Espírito, para que a missão fosse cumprida plenamente. Jesus foi enviado para salvar o mundo e não para condená-lo. Esta foi também a missão dos discípulos.
Caros irmãos e irmãs. No primeiro encontro de Jesus com os discípulos, Tomé “não estava com eles” (Jo 20,24). Separado da comunidade, não participou da experiência de encontro com o ressuscitado, como os demais: não recebeu o Espírito e nem a missão que Jesus lhes havia dado (Jo 20,21-23). Os discípulos narraram-lhe a experiência: “Vimos o Senhor” (Jo 20,25). Os “onze” formavam uma comunidade com uma nova experiência: a de que Jesus não era mais uma figura do passado, pois estava vivo e ativo entre eles. Tomé não aceitou e não acreditou no testemunho dos discípulos. Somente depois, em outra ocasião, estando na comunidade, Tomé faz a experiência da presença de Jesus ressuscitado e faz a grande profissão de fé, dizendo: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20, 28)!
O Evangelho nos ensina que o Cristo ressuscitado é percebido quando os discípulos estão reunidos em comunidade. Separado dela, Tomé não vivera a experiência do encontro com o ressuscitado. Assim, aquele que vive separado da comunidade, da Igreja, não percebe o amor e a presença de Deus em sua vida. É na comunidade de fé que Jesus é percebido. Daí a importância de nossa participação na Igreja/Comunidade.
Caríssimos irmãos e irmãs. Façamos a experiência do Cristo Ressuscitado em nossas comunidades e sejamos testemunhas de sua “eterna misericórdia” onde quer que estejamos.
Deus abençoe a todos e bom domingo.
Dom Adimir Antonio Mazali – Bispo Diocesano de Erexim – RS