Deus não abandona o seu povo!
Minha saudação a todos os irmãos e irmãs que acompanham a Voz da Diocese. Estamos no mês dedicado à Bíblia. Ela, sendo portadora da Palavra de Deus para nós, foi escrita em vista da vida e precisa ser lida com fé. A liturgia deste final de semana nos revela o verdadeiro rosto de Deus. O Salmo 145, que proclamamos, revela como o povo de Israel, ao longo de sua história, rezava: “O Senhor é fiel para sempre, ele faz justiça aos que são oprimidos; ele dá alimento aos famintos, é o Senhor quem liberta os cativos. O Senhor abre os olhos aos cegos, faz erguer-se o caído; o Senhor ama aquele que é justo. É o Senhor quem protege o estrangeiro. Ele ampara a viúva e o órfão”. Essa experiência profunda de Deus fez o povo de Israel confiar nele plenamente.
Caríssimos irmãos e irmãs. A Leitura do Profeta Isaías (Is 35,4-7a) se dirige a pessoas privadas de esperança e de vida. Isaías se pronuncia dizendo: “Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus que vem; ele vem para vos salvar” (Is 35,4). Usando palavras simbólicas, Isaías diz que, com sua chegada, “se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos, assim como brotarão águas no deserto e jorrarão torrentes no ermo” (Is 35,5-6). Trata-se de uma palavra de esperança aos que estão desanimados. Para Isaías, Deus está ao lado de quem sofre. Sua palavra é um convite à esperança e um lembrete de que Deus não abandonou seu povo.
O Evangelho (Mc 7,31-37) deste domingo apresenta Jesus percorrendo as regiões pagãs de Tiro, Sidônia e a Decápole. Significa que o Evangelho é uma proposta de vida digna levada por Jesus e a ser levada por seus discípulos missionários a todos os povos e a todas as pessoas marginalizadas. Objetivamente, o Evangelho de Marcos se destinava, enquanto texto de catequese, aos pagãos dispostos a abraçar a fé.
Em território pagão, Jesus se encontra com uma pessoa surda e que falava com dificuldade. Trata-se de pessoa incapaz de ouvir, de dar seu consentimento, de testemunhar. Jesus levou essa pessoa para fora da multidão, colocou os dedos nos seus ouvidos e depois, com a saliva, tocou sua língua. Que sentido têm essas ações de Jesus? Tocando Jesus o surdo-mudo significa que é o próprio Deus que se aproxima dos necessitados. Jesus é aquele que, anunciado em Isaías, abre os ouvidos e a boca das pessoas para que possam testemunhá-lo. Interessante perceber que Jesus tocou primeiro os ouvidos e depois a boca. Significa que a catequese, a evangelização é primeiramente escuta, assimilação, e para isso a necessidade dos ouvidos bem abertos, e depois, como consequência, é anúncio, e para isso a capacidade de falar. Por sua vez, a cura do surdo-mudo não ocorreu apenas com os gestos de Jesus, mas depois que ele pronunciou sua palavra: “Abre-te!” Jesus não é um mágico. Só sua palavra, seu Evangelho, liberta as pessoas de tudo o que as oprime para que possam falar sem medo e sem dificuldade.
Prezados irmãos e irmãs. A vida de Jesus suscita admiração, chama a atenção pelo modo como Ele age e se relaciona com o Pai e com as pessoas. Sua relação com o Pai era marcada pela confiança, pela oração, pela obediência e pela liberdade. Sua relação com as pessoas fundamentava-se pela lucidez a respeito de sua missão e na consciência de que cada ser humano é chamado a ser filho de Deus, uma dignidade inalienável. Por isso que o Evangelho de Marcos diz que Jesus “fez bem todas as coisas”. O cristão, discípulo de Jesus, é também chamado a viver essa mesma relação com o Pai e com os irmãos e, consequentemente, “fazer bem todas as coisas”. Assim como foi o encontro do surdo-mudo com Jesus, assim deve ser o nosso encontro com o Ele. Como consequência desta experiência com Cristo, devemos tornar-nos também seus discípulos e renovando nossa confiança de que Deus é fiel e nunca abandona seu povo.
Deus abençoe a todos e bom domingo.
Dom Adimir Antonio Mazali – Bispo Diocesano de Erexim – RS