Após a União Europeia suspender a compra de frango de 20 frigoríficos brasileiros, os consumidores internos poderão notar uma diferença substancial nos preços. Para entender melhor os reflexos dessa situação, entidades ligadas ao setor explicam o que pode acontecer com um dos principais produtos da agropecuária brasileira.
O pesquisador de Pecuária do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Thiago Bernardino, relembra que o episódio desta semana remete à terceira fase da operação da Operação Carne Fraca, que passou por investigações mais específicas.
O especialista salienta que o governo brasileiro terá que se esforçar para contornar a situação.
“Acredito que vamos ter que gastar um pouco mais de saliva, em conversas e explicações. Porque como já é uma terceira fase, foram aprofundadas as investigações e foram descobertos novos problemas. A bronca e a punição vêm maiores. E para se justificar uma nova reabertura, a resposta precisa ser muito forte, concisa e rápida. Mas leva-se esse tempo, o que é natural.”
Para a superintendente de Relações Internacionais da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Lígia Dutra, apesar do golpe na credibilidade da produção, a operação demonstra que os órgãos brasileiros fecharam o cerco sobre as fraudes.
Além disso, Lígia concorda com o argumento dado pelo ministro Blairo Maggi, que afirmou que o embargo feito pelo bloco europeu não tem caráter sanitário, mas sim econômico. Apesar do panorama parecer catastrófico, ela acredita que o modelo de negócios do setor permite uma recuperação mais rápida.
“Nós até temos uma diversificação grande de exportação. Então esse é um fator muito positivo para a cadeia enfrentar crises, como esta de agora. A União Européia é sim um mercado importante, nós exportamos para eles no ano passado US$ 770 milhões, mas não é nosso principal mercado de exportação. Nós temos outros parceiros que agora teremos que cuidar. Então para a CNA, a prioridade é que nosso governo consiga ter uma comunicação eficiente com nossos parceiros comerciai para esclarecer o que está acontecendo com a UE, para não deixar nenhuma dúvida sobre a qualidade do produto brasileiro.”
De toda forma, Lígia ainda ressalta que muitas famílias podem sofrer com o embargo e destacou que cerca de 130 mil famílias no Brasil dependem da avicultura para sobreviver.
Os reflexos disso para o consumidor, segundo as previsões do Cepea e CNA, é de queda dos preços nos supermercados. No entanto, as instituições destacam que essa tendência deve ser mantida a curto prazo, pois se permanecer por muito tempo, causará danos a economia.
A decisão da União Europeia vem após a deflagração da terceira fase da operação Carne Fraca, realizada pela Polícia Federal, e batizada de “Trapaça”. Nela, a PF constatou que alguns frigoríficos brasileiros fraudavam os resultados de exames e testes para a presença da bactéria da salmonela, que está presente na flora intestinal do frango, e que, em alguns casos, pode causar a morte em humanos.
Como consequência, o bloco europeu resolveu barrar nesta semana a compra de frango de 20 frigoríficos do Brasil. Destes, 12 pertencem a BRF, maior empresa de proteína animal processada do mundo, dona de empresas como a Sadia e Perdigão.