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Brasil é o 4º maior produtor de banana e está atento à ‘pandemia’ que afeta cultura

O Brasil é o quarto maior produtor de banana do mundo, depois da Índia, China e Indonésia, e destina praticamente toda a sua colheita para o mercado interno, exportando apenas 1%.

Por ano, o setor fatura R$ 13,8 bilhões, sendo a banana a fruta mais produzida no Brasil, atrás somente da laranja, segundo dados do Ministério da Agricultura.

Atualmente, o país acompanha com atenção a chegada de uma doença a países vizinhos nos últimos dois anos.

Trata-se da Raça 4 Tropical (RT4), provocada por um fungo que causa a morte das plantas de bananeira por atacar os seus vasos no caule, mas que não faz mal para humanos por não contaminar o fruto.

A doença já atingiu ao menos 18 países em quatro continentes: Ásia, Oceania, África e América do Sul. E, por ter este alcance, tem se usado cada vez mais o termo “pandemia” para se fazer uma analogia ao fenômeno, afirma Lorena Medina, do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), no Equador.

Na Colômbia, a RT4 chegou em 2019 e, no Peru, em abril deste ano. Os dois países ocupam, respectivamente, o 3º e o 16º lugares no ranking de maiores exportadores. O Brasil está na 36ª posição nesta lista.

O Equador é o maior exportador mundial e, assim como o Brasil, faz fronteira com as duas nações sul-americanas contaminadas. Por isso, a mobilização para combater a doença tem sido grande no país, onde 17% da população economicamente ativa depende da bananicultura.

No Brasil, o setor também tem um papel social importante. A banana é uma opção barata de alimento, emprega 500 mil pessoas de forma direta e quase metade (48%) da sua produção vem da agricultura familiar.

O que é a doença? E o que ela causa?

A raça 4 é uma variante do fusarium oxysporum, fungo de solo que infecta as plantas de bananeira pelas raízes, fazendo com que elas murchem até a morte, explica Edson Perito Amorim, líder do Programa de Melhoramento Genético de Bananas e Plátanos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

A doença costuma ser chamada por diversos nomes e siglas, como murcha de fusarium, mal-do-Panamá, raça 4 tropical (RT4), FocR4T, Tropical Race 4 (TR4) no termo em inglês, entre outros.

Por dentro, o caule contaminado da bananeira fica escurecido, diferentemente do caule saudável que é bem branco.

Não existe tratamento para a raça 4 de fusarium, ou seja, nenhum produto químico que combate a doença ou algum tipo de bananeira resistente.

Apesar disso, a Embrapa e outros institutos no mundo já trabalham com melhoramento genético para criar variedades mais resistentes (veja mais abaixo na reportagem).

No Brasil só existe a raça 1, que já está controlada e para a qual existe tratamento, explica o diretor da Associação dos Bananicultores do Vale do Ribeira, Silvio Romão.. Outra diferença é que o fusarium 1 só ataca as plantações de prata, enquanto o 4 ataca todos os tipos.

Como surgiu e onde a doença está?

A RT4 foi detectada no final nos anos 90 em quatro países da Ásia (Taiwan, Malásia, China, Indonésia) e na Austrália. Em 2008, ela chegou nas Filipinas e, a partir de 2010, se espalhou para a África e América do Sul.

 

Lorena Medina, do IICA diz que os países onde há registros confirmados da doença são:

14 asiáticos: Taiwan, Malásia, Indonésia, Filipinas, China, Omã, Jordânia, Paquistão, Líbano, Laos, Vietnã, Mianmar, Israel e Índia;

2 na América: Colômbia e Peru;

1 na Oceania: Austrália;

1 na África: Moçambique

A RT4 pode chegar ao Brasil?

Amorim, da Embrapa, diz que o Brasil “não está livre da entrada dessa doença” e que a chegada da RT4 na Colômbia e no Peru acende um alerta maior e reforça a necessidade de controle nas fronteiras, nos aeroportos e busca por soluções e prevenção.

Já o Ministério da Agricultura afirma que não tem conhecimento de “estudos específicos para o ingresso dessa praga no Brasil”.

Mas alerta aos viajantes de que é proibido trazer mudas de bananeira de países com o FocR4T. “Esta é uma das principais vias de ingresso desse fungo, pois o FocR4T produz esporos que permanecem no solo por até 30 anos”.

O que o Brasil está fazendo?

A Embrapa está tentando criar, por meio de melhoramento genético, tipos de bananeira resistentes ao fusarium 4. A estatal já enviou amostras de algumas variedades que desenvolveu para a Austrália, que entrarão em fase de teste no final de 2021.

“Estamos também próximos a assinar um convênio com a Colômbia e teremos também condições para testar nossas cultivares naquele país”, diz Amorim.

O pesquisador conta que o Brasil já conseguiu conter o avanço de doenças da banana por meio de pesquisas feitas com antecedência.

“Nos anos 90, não existia a sigatoka negra no Brasil. Mas, já sabendo da possibilidade da entrada dela, nós desenvolvemos cultivares resistentes em parceria com a Costa Rica. […] Em 1998, quando a sigatoka negra foi detectada no Acre, a Embrapa imediatamente teve condições de encaminhar diferentes cultivares para fazer frente à doença”, conta.

Governo

Já o Ministério da Agricultura afirma que está monitorando as fronteiras com a Colômbia e o Peru e que a vigilância nessas áreas foi definida como “atividade essencial” durante a pandemia do coronavírus.

“As ações da vigilância internacional (Vigiagro) em portos e aeroportos foram reforçadas, principalmente após o primeiro caso no Colômbia”, ressalta.

O governo disse ainda que tem feito levantamentos de detecção nas principais áreas de risco desde 2017; cursos para auditores fiscais federais e estaduais para identificar sintomas e coletar de amostras e workshops para produtores.

“Em 2018, foram publicados o plano de contingência e a cartilha de alerta fitossanitário para esta praga. Nesse mesmo ano, o Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de Goiás foi estruturado e seu pessoal capacitado para análises de identificação molecular do fungo”, diz o ministério.

Já em 2020, o governo criou o Plano Nacional de Prevenção e Vigilância do TR4, por meio da Instrução Normativa nº 30.

Produtores

Do lado dos produtores, um dos caminhos de prevenção é a higienização dentro da lavoura, diz Silvio Romão, da Abavar. Por outro lado, ele destaca que há pouca conscientização dos produtores sobre o assunto.

SourceG1
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