Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Bristol, na Inglaterra, mostrou que crianças expostas ao acetaminofeno, conhecido como paracetamol, ainda dentro do útero podem ter um maior risco de problemas comportamentais.
“Dada a disseminação do uso de acetaminofeno entre grávidas, isso pode ter importantes implicações na saúde pública. No entanto, o risco de não se tratar a febre ou a dor durante a gestação deveria ser cuidadosamente considerado contra qualquer dano potencial do paracetamol para a prole”, relatou a pesquisadora Evie Stergiakouli.
Na pesquisa, publicada em agosto na “Pediatrics”, os pesquisadores destacam que estudos adicionais são necessários para determinar os mecanismos por trás da associação. Eles analisaram dados de 7.796 mães que foram recrutadas através do ALSPAC (Avon Longitudinal Study of Parents and Children) entre 1991 e 1992, junto com suas crianças e parceiros.
Como base do estudo, eles avaliaram o uso de paracetamol pré e pós-natal, assim como uso de paracetamol pelo parceiro. Cerca de 53% das mães relataram o uso do acetaminofeno em 18 semanas de gravidez e 42% em 32 semanas. Além disso, 89% das mães e 84% dos parceiros disseram usá-lo após o nascimento.
A análise foi refeita diversas vezes, com o intuito de ajustar características como idade materna ao nascimento, condições socioeconômicas, consumo de tabaco e álcool durante a gestação, índice de massa corporal antes da gestação, doenças psiquiátricas maternas auto relatadas, possíveis razões para uso do paracetamol e fatores de risco genéticos para Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).
O resultado mostrou que 5% das crianças aos 7 anos de idade tiveram problemas de comportamento. O uso do medicamento por parte da mãe, em até 18 semanas de gravidez, foi associado com uma maior probabilidade do bebê desenvolver problemas de conduta e sintomas de hiperatividade. Já o uso em 32 semanas foi associado com maiores chances de sintomas emocionais, de hiperatividade e problemas de conduta.
Os pesquisadores acreditam que possa existir uma ligação mais forte entre o uso de paracetamol e problemas comportamentais durante o terceiro trimestre. “Dado que existe desenvolvimento e crescimento cerebral ativo durante o terceiro trimestre, esse achado poderia indicar que existem períodos do desenvolvimento nos quais o cérebro é mais sensível à exposição ao paracetamol”, comentou Evie Stergiakouli.
No entanto, as descobertas ainda são limitadas pela ausência de informação sobre a dose de paracetamol ou duração do uso. A influência do paracetamol no comportamento das crianças ainda é desconhecido, os pesquisadores sugerem que as propriedades do paracetamol podem desregular o sistema endócrino e poderiam afetar o desenvolvimento fetal. Além disso, o feto poderia desenvolver metabólitos tóxicos quando o paracetamol atravessa a placenta ou sofrer uma alteração do desenvolvimento cerebral devido ao estresse oxidativo.