Poucas vezes um campeão foi tão, mas tão campeão. O Novo Hamburgo entrou para a história do futebol gaúcho ao vencer o Estadual de ponta a ponta. Foi o melhor time da fase de classificação, jogou seis vezes contra a rica dupla Gre-Nal sem perder uma vez sequer e, na final do Gauchão, no Estádio Centenário, em Caxias do Sul, bateu o Inter por 3 a 1 nas penalidades, após novo empate no tempo normal, dessa vez em 1 a 1 (2 a 2, no jogo de ida, no Beira-Rio). Desde o Caxias, campeão gaúcho em 2000, um clube do Interior não conquistava o título. O Noia entrou para a galeria dos heróis do futebol do Rio Grande do Sul.
Antes de a decisão começar, nas arquibancadas uma pequena guerra de cânticos era travada. Enquanto que a torcida do Novo Hamburgo gritava “ão, ão, ão, segunda divisão”, os colorados retrucavam: “ão, ão, ão, time sem divisão”.
O Novo Hamburgo começou a final como um verdadeiro mandante: se impondo sobre o adversário. Com os seus armadores marcados, o Inter ficou encurralado em seu campo, sem alternativas para avançar. Com dois minutos de jogo, a tradicional falha na bola aérea da defesa colorada e, após uma cobrança de lateral, João Paulo cabeceou para fora, rente à trave.
Aos poucos, o Inter foi se ajustando na partida e passou a pressionar o Novo Hamburgo. Aos seis minutos, Brenner reclamou pênalti do lateral Léo. O árbitro Leandro Vuaden nada marcou e, ato contínuo, Vuaden passou a travar uma batalha particular com Antônio Carlos Zago. Após a reclamação de pênalti, o árbitro ameaçou expulsar o treinador.
Aos nove minutos, D’Alessandro cobrou falta e Matheus fez uma grande defesa, no ângulo. A resposta do Noia, uma vez mais, veio pelo alto. E, como de costume, nova falha da zaga. Só não foi gol porque Branquinho não chegou em tempo na bola.
Aos 17 minutos, escanteio para o Inter e Victor Cuesta perdeu o gol ao chutar fraco, nas mãos de Matheus. O goleiro defendeu e começou o contra-ataque do Novo Hamburgo, que resultou em mais um cruzamento, com Danilo saltando mal, errando em bola e acertando a cabeça de Dourado.
O Novo Hamburgo foi fatal, aos 21 minutos. Assis cruzou na área e Ernando, que tinha a chance de renascer no Inter jogando como lateral, cabeceou. Contra. Para dentro do gol. A bola correu preguiçosa para as redes, com Danilo quase sem reação tentando alcançá-la. O 1 a 0 não fez com que o ritmo do Novo Hamburgo diminuísse. O time de azul seguiu buscando mais um gol.
O primeiro tempo correu para o fim com um Inter apático tentando bem mais evitar um 2 a 0 do que buscando o empate que levaria a decisão os pênaltis.
No segundo tempo, com a entrada de Carlos no lugar do arrasado Ernando, o Inter partiu para o tudo ou nada. A postura, ao menos se modificou e o time apático pareceu desaparecer. Aos três minutos, após uma confusão de chutes e rebotes na área, Dourado bateu para empatar.
Com o 1 a 1, o Inter tentou fazer valer o seu poderio de clube grande e partiu com gana para cima do Novo Hamburgo. E a final virou um jogão, de lado a lado. O time de Zago passou a desperdiçar chances de gol. Brenner perdeu primeiro, depois, Carlos, cara a cara com Matheus, chutou de maneira bisonha, para fora. Depois, Nico demorou a se virar e perdeu para Júlio Santos.
Com Uendel na lateral-esquerda, e Rodrigo Dourado sendo o melhor jogador do Inter, o Novo Hamburgo passou a ter dificuldades para chegar ao gol de Danilo. A arbitragem de Libertadores de Vuaden, deixando o jogo correr, permitiu que a partida tivesse lances de área à área quase que todo o tempo.
Com tanta intensidade, os dois times acabaram cansando e os minutos finais foram com o Inter tentando evitar ao máximo a decisão por pênaltis, devido às lesões de seus goleiros, e o Novo Hamburgo tentando encontrar um gol de fora da área para fazer história em 90 minutos.
Nos minutos finais, Nico deveria ter sido expulso em um lance com Assis, ao acertar o adversário com o braço. Em seguida, Zago tirou Carlos para a entrada do seu “amuleto das penalidades” Diego. Dois minutos depois, Vuaden encerrou a partida e o Gauchão foi definido nas cobranças de pênaltis.
O Inter abriu a série com D’Alessandro e mandou a bola no travessão. João Paulo bateu e marcou. Cuesta também cobrou no travessão. Léo bateu para o Novo Hamburgo, também no travessão. Nico cobrou e Matheus defendeu. Júlio Santos mandou no ângulo: 2 a 0. William então descontou para o Inter, 2 a 1. E, dos pé direito do zagueiro Pablo saiu o gol que levou o Novo Hamburgo para a história: 3 a 1. Novo Hamburgo campeão gaúcho.
Para a sorte do Inter, o Novo Hamburgo não disputará a Série B. Para azar do futebol gaúcho, esse histórico time do Novo Hamburgo sofrerá um desmanche a partir de agora.