Anualmente morrem no trânsito mais de 186 mil crianças no mundo. São mais de 500 óbitos por dia. Os dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) trazem um alerta sobre a vulnerabilidade desse grupo no trânsito. As lesões ocasionadas por acidentes estão entre as principais causas de morte de crianças acima de 5 anos.
Os países de baixa e média renda respondem por 95% das ocorrências. A taxa de mortalidade nesses locais é quase três vezes maior do que em países de alta renda. Em 2010, 38% das crianças que morreram em acidentes de trânsito no mundo eram pedestres. As que se deslocavam de carro compõem outros 36%, 14% foram vítimas em motocicletas ou ciclomotores, 6% em bicicletas e 7% em outros meios de transporte.
O levantamento da OMS ainda mostra que, apesar de todas as crianças estarem vulneráveis a acidentes que podem causar lesões ou mortes, os meninos respondem por cerca do dobro dos óbitos das meninas. O risco elevado é atribuído a uma maior exposição desses ao tráfego e a tendência natural de assumir maiores riscos.
Para tentar diminuir a mortalidade, foi instituída, em 2008, a resolução 277 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que estabelece condições mínimas de segurança para o transporte de passageiros com idade inferior a 10 anos. De acordo com a instituição, o sistema de retenção reduz a probabilidade de lesões fatais em cerca de 70% dos bebês e de 54% a 80% das crianças.
O uso da cadeirinha no banco traseiro dos automóveis, por exemplo, começou a ser exigido em 2010 após o prazo para a regularização deste dispositivo ter se esgotado. O equipamento contempla crianças de 1 até 4 anos. A não obediência aos dispositivos legais é considerada infração gravíssima e prevê multa de R$ 191,54, sete pontos na CNH e retenção do veículo até que a irregularidade seja sanada, segundo o Contran. O Ministério da Saúde também tenta reduzir as mortes em acidentes por meio da conscientização. Entre as ações realizadas estão campanhas educativas e a qualificação do sistema de informação sobre acidentes.
Adultos precisam cuidar mais
No Rio Grande do Sul, 193 crianças de zero a 4 anos morreram em acidentes de trânsito de 2007 até setembro deste ano. Segundo levantamento do Departamento Estadual de Trânsito (Detran/RS), nas 22 mortes deste grupo registradas somente este ano, 18 eram passageiros e quatro, pedestres. Em todo o ano passado, segundo o Detran, 23 crianças morreram vítimas de desastres.
Um dos grandes problemas que influenciam ocorrências de acidentes é que as crianças têm a tendência em subestimar os riscos. Conforme Laís Silveira, chefe da Divisão de Educação para o Trânsito do Detran/RS, pequenos trajetos às vezes não são considerados para a utilização de dispositivos de segurança. “O risco é subestimado. Os pais acreditam que colocar os filhos no colo pode ser seguro, mas eles (crianças) ficam muito vulneráveis”, afirma. “Os acidentes acontecem geralmente próximo ao local de destino”, salienta Laís Silveira.
A falta de atenção nas vias também é responsável por grande parte das ocorrências. “A criança de até 4 anos está em crescimento e não consegue distinguir os riscos”, alerta Laís. “É necessário que os adultos tenham cuidado redobrado.”
As crianças com 8 anos, quando iniciam o período escolar, também são alvos recorrentes, segundo Laís. “Elas começam a sair para a rua e a serem independentes, mas só depois dos 10 anos vão atingir uma percepção maior no trânsito”. Laís ressalta a importância do trabalho de educação para o trânsito, que deve ser feito nas escolas.