“Domingo – Dia do Senhor”
Minha saudação a todos os irmãos e irmãs que acompanham a Voz da Diocese. A Liturgia da Palavra deste domingo nos faz ver que a vida humana está acima de tudo, está acima das próprias leis e tradições. Para a Sagrada Escritura, nada tem valor maior do que a vida humana. A vida de uma pessoa tem um valor incomparável. Por isso, cada pessoa, independentemente de sua condição, encerra em si mesma uma sacralidade que a torna filha de Deus. Assim, a Sagrada Escritura mostra que a vida humana constitui a finalidade básica da ação criadora de Deus.
Prezados irmãos e irmãs. A Primeira Leitura deste domingo traz à reflexão o mandamento divino sobre a observância do sábado: “Guarda o sábado para o santificares, como o Senhor teu Deus te mandou. Trabalharás seis dias e neles farás todas as tuas obras. O sétimo dia é o sábado, o dia do descanso dedicado ao Senhor teu Deus”. O sábado é uma instituição muito antiga em Israel. É um dia de repouso e de festa, dia de visita ao santuário (Is 1,13), de celebração a Deus pela vida. Nós, cristãos, vivemos este mesmo sentido no domingo, por ser o dia da ressurreição de Jesus, o centro de nossa fé.
O Livro do Êxodo associa a observância do sábado ao fato de Deus ter descansado no sétimo dia da criação. No sétimo dia Deus descansou de sua obra e o abençoou. Ao abençoar o sétimo dia, Deus o torna uma bênção para todas as criaturas que o experimentam como dia de descanso. O sétimo dia é, portanto, santificado, tornando-se o tempo mais santo de Israel, por ser a primeira coisa que Deus santificou.
Caros irmãos e irmãs. O Livro do Deuteronômio, do qual temos a primeira leitura deste domingo, associa a observância do sábado à libertação do Egito. Isto faz ver que a liberdade conquistada com a saída da escravidão do Egito fez surgir leis voltadas à defesa da vida e da dignidade das pessoas. Por isso, a lei do Deuteronômio prevê descanso para todos no sábado: “Não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu escravo, nem tua escrava, nem teu boi, nem teu jumento, nem algum de teus animais, nem o estrangeiro que vive em tuas cidades, para que assim” todos “repousem da mesma forma que tu”. Trata-se de uma lei voltada a todos, pois todos têm o mesmo direito à vida digna. O dom da liberdade deve ser partilhado com todos. O sábado tinha implicações sociais importantes, pois aponta uma relação social igualitária. Originalmente, portanto, o sábado era uma formidável lei de igualdade social.
Porém, no tempo de Jesus, os doutores da Lei e os fariseus faziam uma interpretação fundamentalista da lei do sábado. Apegavam-se à letra. Em vez de ser dia de celebrar a libertação, como era nas origens de Israel, o sábado tornara-se um peso. Jesus, no Evangelho deste domingo, ensina que “o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado” (Mc 2,27). O homem não pode tornar-se escravo da lei. Apresentando-se “senhor do sábado” (Mc 2,28), Jesus mostra que a vida está acima da lei. Ele faz ver que nenhuma lei, por mais sagrada que seja, é absoluta. A lei serve enquanto está a serviço da vida. Por isso, Jesus curou o homem da mão atrofiada em dia de sábado, pois para ele tinha maior valor o homem curado do que a observância estrita da lei.
Caríssimos. A Liturgia deste domingo é ainda um convite a repensarmos o valor da vida e o justo descanso semanal, do qual todos têm direito. Também a recordarmos que o domingo, como “Dia do Senhor”, além de ser de descanso, deve ser um dia especial para agradecer a Deus, o dom da vida e do trabalho, bem como um dia sagrado para o encontro da comunidade cristã com Aquele que é o Senhor da vida e da história, Jesus Cristo. É oportunidade de participar melhor das celebrações na comunidade eclesial da qual fazemos parte. Então, valorizemos o domingo como dia do Senhor, santificado por Ele com sua ressurreição.
Deus abençoe a todos e bom domingo!
Dom Adimir Antonio Mazali – Bispo Diocesano de Erexim – RS