Solenidade de Cristo Rei: “Um Reino para todos”.
Minha saudação a todos os irmãos e irmãs que acompanham a Voz da Diocese. Neste Domingo celebramos a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Com esta solenidade encerra-se o Ano Litúrgico. Celebrar Jesus Cristo, Rei do Universo, significa celebrar a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. Por isso, a celebração deste último domingo do Ano Litúrgico é uma grande profissão de fé no Senhor da História ou, como diz o Apocalipse, “Aquele que é, que era e que vem, o Todo-poderoso” (Ap 1,8). É também momento privilegiado para que a comunidade cristã, os leigos e leigas, neste seu Dia Nacional, tomem consciência de seu lugar e papel na sociedade.
Prezados irmãos e irmãs. A Liturgia da Palavra deste domingo é constituída de textos apocalípticos. A apocalíptica é palavra profética em tempos de perseguição. Trata-se de uma palavra que tem por objetivo animar as comunidades perseguidas para que resistam diante dos poderes tirânicos e opressores. O Profeta Daniel contempla a visão do “filho do homem” que se aproxima do “Ancião de muitos dias” (Dn 7,13-14). É figura do povo que está sendo perseguido pelos poderes tirânicos da história, mas que confia em Deus, presente na história. Por ser fiel a Deus, Deus lhe confia o seu projeto, “um poder eterno que não lhe será tirado, um reino que não se dissolverá” (Dn 7,14).
No Evangelho (Jo 18,33b-37), João mostra que a realeza de Jesus contrasta frontalmente com os modelos de realeza encontrados na sociedade. O contexto em que João fala da realeza de Jesus é o da paixão, da cruz, da morte, da ressurreição e ascensão de Jesus ao Pai. O diálogo de Jesus com Pilatos ressalta o tipo de realeza de Jesus. A conversa entre Jesus e Pilatos é marcada pela incompreensão de Pilatos e dos judeus: eles não entendiam o messianismo de Jesus. Desta forma, as palavras e as ações de Jesus traduzem sua genuína realeza. Não aderindo a Jesus, as pessoas estão deixando de ser o Israel de Deus para se tornar um povo como qualquer outro.
Caros irmãos e irmãs. Pilatos queria saber o que Jesus havia feito, pois havia sido entregue nas mãos dos romanos: “Que fizeste?” (Jo 18,35). Para as autoridades, Jesus era tido por um malfeitor. Para o Evangelista, as obras de Jesus legitimam sua missão. Jesus afirma a Pilatos: “O meu reino não é deste mundo. O meu reino não é daqui” (Jo 18,36). Significa dizer que Jesus rejeita a realeza que se fundamenta no poder explorador. Jesus não está pretendendo o trono de Pilatos, mas estabelecer relações justas, igualitárias e fraternas na sociedade. A realeza de Jesus não se baseia no modo como os poderosos conquistam e mantêm o poder. Em vez de explorar as pessoas, Jesus vai dar a própria vida para que todos possam ter vida digna. Ele mesmo disse: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). Por isso, a realeza de Jesus passa pela cruz, morte e ressurreição. Não é a realeza de Pilatos ou outros governantes.
A missão de Jesus é mostrar o projeto do Reino de Deus, que passa pela verdade: “Eu nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18,37). A última afirmação de Jesus no Evangelho deste domingo é um desafio à comunidade cristã: pertencer à verdade de Jesus e ouvir a sua voz. Pertencer à sua verdade é aderir a Ele, reconhecer sua realeza, que é serviço aos irmãos, sobretudo aos mais necessitados. Ouvir a sua voz implica em pertencer a seu rebanho e segui-Lo livremente.
Por isso, a liturgia desse domingo nos convida a pensar sobre o nosso papel no projeto inaugurado por Jesus. Se Jesus é um rei diferente, que faz da cruz seu trono, então também o seu reinado é distinto dos reinados que conhecemos. No seu reinado tem lugar para todos e ninguém é excluído. Movidos pela mensagem desta solenidade, confiamos a Deus nossa vida e de todos os que se dedicam ao anúncio do Evangelho.
A todos os leigos (as) comprometidos em nossas comunidades na edificação do Reino de Deus, nossa prece, orações e nossa gratidão.
Deus abençoe a todos e bom domingo.
Dom Adimir Antonio Mazali – Bispo Diocesano de Erexim – RS