A Petrobras informou às distribuidoras que vai reduzir o preço da gasolina nas refinarias em 15% e vale a partir desta quarta-feira (25). É a décima vez que a petroleira diminuiu o preço do combustível este ano, com uma alta no meio provocada pelo câmbio. Aqui na Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), o corte chega a 20 centavos. Os preços são diferentes conforme a refinaria.
Desta vez, não houve ajuste no preço do diesel, como nas definições anteriores da estatal. O último corte, na semana passada, foi de 12% na gasolina e de 7,5% no diesel. E, na semana anterior, a Petrobras tinha reduzido o preço da gasolina em 9,5% e do diesel em 6,5%.
O tombo na cotação do petróleo no mercado internacional abriu espaço para a redução dos preços nas refinarias, onde os valores são definidos pela estatal. A definição de preços é livre nas distribuidoras e também nos postos de combustíveis. No entanto, pela dimensão nos cortes, esse repasse tende a ocorrer significativamente para as bombas. A Petrobras também considera o câmbio nos ajustes de preço, mas o dólar tem subido menos do que a queda do petróleo.
O petróleo já vinha caindo desde o início do ano, mas acelerou o recuo com o avanço do coronavírus, desacelerando a economia e projetando uma demanda menor pela commodity. Só que a situação se agravou quando a Rússia não entrou em acordo com a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que buscava um consenso de redução de produção para sustentar preços. Em retaliação, a Arábia Saudita anunciou que elevaria produção e daria desconto nos preços. Com isso, os preços do petróleo despencaram. Ainda cedo para dizer que é uma tendência, o petróleo está subindo hoje no exterior. No radar, um acordo entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita para reduzir produção e elevar preços, avisa o analista de mercado Wagner Salaverry, da Quantitas Asset. Mas a Petrobras costuma esperar antes de repassar o ajuste para os combustíveis nas refinarias.
Na bomba
Pela terceira vez consecutiva, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) identificou queda no preço da gasolina comum no Rio Grande do Sul na semana passada. A média do litro teve redução de dois centavos, passando para R$ 4,57.
O levantamento encontrou valores entre R$ 4,19, em Porto Alegre, até R$ 5,38, em Bagé. Chama a atenção, novamente, o preço mais baixo ter sido encontrado na Capital.
Cautela ao comemorar
Desde que a Petrobras mudou sua política de preços da gasolina e do diesel, o brasileiro tem aprendido a associar as quedas e altas do petróleo no mercado internacional a repasses para as bombas. Com o avanço do coronavírus, a economia global dá sinais de desaceleração, o que reduz o consumo de combustíveis e provoca queda no preço do “ouro negro”.
Isso vinha se intensificando nas últimas semanas, inclusive fazendo a Petrobras já cortar os preços nas refinarias. A última redução tinha ocorrido no final de fevereiro, quando os preços do diesel foram cortados em 5% e os da gasolina, em 4%.
É de comemorar? Infelizmente, não. Há outras implicações fortes dessa tensão política e econômica, sem contar que o avanço do coronavírus gera preocupação social, além de elevação de gastos. A redução no preço dos combustíveis por esses motivos não é saudável. O mercado financeiro sabe disso, provocando a queda nas bolsas.
Como exportadora, o caixa da Petrobras sofre com a queda brusca no preço do petróleo. Lembrando que a empresa é uma das maiores do Brasil, movimenta cadeias econômicas inteiras e tem muitos acionistas, inclusive os pequenos que aplicaram nela seu FGTS. Químico industrial, Marcelo Gauto ainda projeta efeitos de prazo mais longo. A queda brusca no preço do petróleo provoca um efeito rebote.
— Alguns produtores reduzem investimentos e a produção começa a declinar. Os preços sobem por essa redução, algo que demora a se recuperar. Quanto mais longa for essa redução de preços, mais grave pode ser o efeito lá adiante — diz ele.