As quedas de temperatura foram associadas ao aumento no número de mortes por acidente vascular cerebral (AVC), principalmente entre a população com mais de 65 anos. Entre os idosos, a incidência de AVC associado a quedas na temperatura média é maior entre as mulheres.
A conclusão é de um estudo que envolveu dados de mortalidade e de estações meteorológicas de 2002 a 2011 na cidade de São Paulo, realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Católica de Santos (Unisantos), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de SP (Fapesp).
Quando os dados do Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no Município de São Paulo (PRO-AIM) e da Estação Meteorológica do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP foram confrontados, houve a descoberta de que o risco relativo para a ocorrência de AVC (isquêmico e hemorrágico) era maior quando a temperatura média era menor, abaixo dos 15 ºC. Acima dos 65 anos, as temperaturas médias mais baixas representaram maior risco de AVC hemorrágico para as mulheres, um resultado que surpreendeu os pesquisadores.
“No início do estudo, achávamos que quando houvesse uma variabilidade acentuada de temperaturas, tanto para o frio quanto para o calor, os resultados seriam semelhantes para os dois subtipos de AVC. Ou seja, nos dias de muito frio ou de muito calor haveria mais mortes de ambos os subtipos. Não foi o que ocorreu. No caso do AVC hemorrágico, o frio é um fator muito mais importante, especialmente entre as mulheres”, disse a geógrafa Priscilla Venâncio Ikefuti à Agência Fapesp. Ela foi professora da Universidade Federal da Fronteira Sul e trabalha na Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, no Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE).
Uma explicação para o fato de o AVC ser mais comum entre os idosos é a diminuição do metabolismo na terceira idade. Os idosos têm menor capacidade de manter a homeostase – regulação do metabolismo para manter constantes as condições fisiológicas necessárias à vida – diante de mudanças nas temperaturas.
“Verificamos também que, para todos os casos de AVC, e para o AVC hemorrágico em particular, o sexo mais vulnerável é o feminino. Os dados mostram que as mulheres têm, mesmo que ligeiramente, mais alta mortalidade média por AVC. O risco relativo do acidente, calculado para as variações da temperatura média, também foi maior entre mulheres do que em homens. De forma similar, as temperaturas médias mais baixas causaram maior impacto em mulheres, em ambos os subtipos de AVC”, disse Ikefuti.
Segundo ela, o estresse pelo frio resulta em elevação da pressão arterial, aumento na viscosidade do sangue e na contagem de plaquetas, o que eleva a pressão arterial podendo causar um AVC hemorrágico.
Os pesquisadores destacam que uma questão importante para explicar o maior risco de AVC entre as mulheres está na menopausa, quando o corpo diminui a produção do hormônio estrogênio, o que a deixa sujeita a um maior risco de doenças vasculares.
“Nosso estudo contribui para a compreensão do impacto da temperatura sobre a mortalidade por AVC em um país tropical, onde a temperatura não seria, supostamente, um fator de preocupação para risco de AVC. O trabalho comprovou que, pelo menos na cidade de São Paulo, este não é o caso”, disse o médico Alfésio Luís Ferreira Braga, professor da Unisantos e coautor da pesquisa.