Metade das exportações brasileiras realizadas no ano passado foi de produtos básicos, segundo dados da série histórica do comércio exterior disponibilizados pelo Ministério da Economia.
Produtos classificados como básicos são aqueles que não têm tecnologia envolvida ou acabamento, como minerais, frutas, grãos e carnes, por exemplo.
Ao todo, no ano passado, as vendas externas somaram US$ 239 bilhões, dos quais US$ 119 bilhões (49,7%) se referem a itens básicos.
De acordo com o governo federal, a proporção é a maior desde o início da série histórica, em 1980, ou seja, a maior em 38 anos.
Segundo o Ministério da Economia, as exportações de itens básicos cresceram 17,2% no ano passado, mais de duas vezes acima da expansão de manufaturados (industrializados): 7,4%.
Exportação de produtos manufaturados
Diante do crescimento de exportações de produtos básicos, o Brasil tem registrado nos últimos anos queda nas vendas externas de produtos manufaturados.
Em 2018, por exemplo, os produtos industrializados representaram 36,07% das exportações, um dos menores níveis da série histórica.
Mercados compradores
Os dados do governo mostram que a China e a Europa receberam os produtos básicos brasileiros no ano passado, enquanto que os Estados Unidos se destacaram na aquisição de manufaturados.
Veja os principais produtos comprados pela China no ano passado:
soja
petróleo em bruto
minério de ferro
celulose
carne bovina
ferro em ligas
carne de frango
algodão em bruto
Para a União Europeia também houve destaque para produtos básicos: farelo de soja, minério de ferro, celulose, café em grão, petróleo em bruto, soja, minério de cobre.
á para os Estados Unidos, o aumento de 6,6% das exportações foi influenciado pelo crescimento das vendas de aço semimanufaturado, petróleo bruto, partes de motores de aviões, máquinas e aparelhos para terraplanagem.
“As exportações brasileiras para os EUA, em 2018, foram majoritariamente de bens manufaturados (cerca de 60%). Com isso o mercado norte-americano se consolida como o maior destino de produtos industrializados do Brasil”, informou o governo.
Ascensão da China
Segundo Diego Bonomo, da CNI, a ascensão da China nos últimos 20 anos como país produtor de manufaturas mudou os “sistemas de trocas” da economia brasileira, que passou de exportadora, principalmente, de industrializados para vendedora de produtos sem acabamento.
“Internamente, a gente tem um desafio de produtividade, que é baixa e está estagnada há quase 10 anos. A agricultura teve um granho de produtividade significativo. Mas talvez o que mais explica é o fator externo, principalmente a China”, declarou.
De acordo com o analista, o crescimento da China como produtora puxou o chamado “boom” de “commodities” (alta nos preços de minérios e petróleo, adquiridos pela economia asiática como insumo para sua produção) que vem ocorrendo desde a década 2000.
Ele observou que a China operou com câmbio desvalorizado nas últimas décadas, o que barateou seus produtos industrializados, com regras trabalhistas “inferiores” e com subsídios maciços do Estado, barateando seus produtos e dificultando a competição com as manufaturas brasileiras no exterior.