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Pioneirismo, inspiração, superação – o legado de Glória Maria

Glória Maria Matta da Silva nasceu no Rio. Filha do alfaiate Cosme Braga da Silva e da dona de casa Edna Alves Matta, estudou em colégios públicos e sempre se destacou. “Aprendi inglês, francês, latim e vencia todos os concursos de redação da escola”, lembrou em entrevista ao Memória Globo.

A jornalista deixa duas filhas: Maria, de 15 anos, e Laura, de 14, adotadas em 2009.

Primeira jornalista a aparecer na TV (antes, os repórteres não apareciam no vídeo) e primeira aparecer a entrar ao vivo e em cores no Jornal Nacional, Glória Maria foi pioneira inúmeras vezes. Esse pioneirismo é reconhecido como inspiração para mais de uma geração de mulheres negras.

Ao longo de cinco décadas de carreira, Glória Maria mostrou mais de 100 países em suas reportagens e protagonizou momentos históricos. Entrevistou chefes de Estado e celebridades como Michael Jackson e Madonna.

Também cobriu a Guerra das Malvinas, em 1982; a invasão da embaixada brasileira do Peru por um grupo terrorista, em 1996; os Jogos Olímpicos de Atlanta, também em 1996; e a Copa do Mundo de 1998, na França.

Na TV Globo deste 1970, passou ainda por Bom Dia Rio, RJTV, Jornal Hoje, Fantástico e Globo Repórter, último programa do qual fez parte.

Eu sou uma pessoa movida pela curiosidade e pelo susto. Se eu parar para pensar racionalmente, não faço nada. Tenho que perder a racionalidade para ir, deixar a curiosidade e o medo me levarem, que aí eu faço qualquer coisa”, disse sobre seu trabalho.

VIDA E CARREIRA

No início da juventude, Glória Maria também chegou a conciliar os estudos na faculdade de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) com o emprego de telefonista da Embratel.

Em 1970, foi levada por uma amiga para ser radioescuta da Globo do Rio. Naquele tempo sem internet, ela descobria o que acontecia na cidade ouvindo as frequências de rádio da polícia e fazendo rondas ao telefone, ligando para batalhões e delegacias.

Na Globo, tornou-se repórter numa época em que os jornalistas ainda não apareciam no vídeo. A estreia como repórter foi em 1971, na cobertura do desabamento do Elevado Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro. “Quem me ensinou tudo, a segurar o microfone, a falar, foi o Orlando Moreira, o primeiro repórter cinematográfico com quem trabalhei”.

Glória Maria trabalhou no Jornal Hoje, no RJTV e no Bom Dia Rio. Coube a ela a primeira reportagem do matinal local, há 40 anos, sobre a febre das corridas de rua.

No Jornal Nacional, foi a primeira repórter a aparecer ao vivo. Cobriu a posse de Jimmy Carter em Washington e, no Brasil, durante o período militar, entrevistou chefes de Estado, como o ex-presidente João Baptista Figueiredo.

Foi quando ele [João Figueiredo] fez aquele discurso ‘eu prendo e arrebento’ – para defender a abertura [1979]. Na hora, o filme [para fazer a gravação da entrevista] acabou e não tínhamos conseguido gravar”, lembrava ela.

“Aí eu pedi: ‘Presidente, é a TV Globo, o Jornal Nacional, será que o senhor poderia repetir?’. ‘Problema seu, eu não vou repetir’, disse Figueiredo. O ex-presidente dizia para a segurança: ‘Não deixa aquela neguinha chegar perto de mim’.”

REPORTAGENS INTERNACIONAIS

A jornalista Glória Maria viajou para mais de 160 países a trabalho ao longo da carreira. Jamaica, Irã e Índia integram a lista. A apresentadora, que foi um dos destaques do Globo Repórter e do Fantástico, tinha orgulho dos passaportes carimbados. Ela morreu nesta quinta-feira (2), no Rio de Janeiro.

Em entrevista ao programa Altas Horas, em junho de 2019, a jornalista disse que quando começou a trabalhar pela TV Globo, com 16 para 17 anos, passou a viajar profissionalmente e chegou a conhecer 163 países. Ela tinha o sonho de ir à Lua e estava inscrita na Nasa para fazer a viagem.

Glória Maria também listou três lugares mais inesquecíveis. “Irã, Índia… Bom, e se eu colocar o Brasil, vai dar problema? Porque o Brasil a cada momento, a cada minuto, a gente tem mais um lugar, mais uma coisa a descobrir”, justificou durante o programa.

No entanto, uma das viagens que mais repercutiu e acabou gerando memes históricos foi para a Jamaica, onde teve uma experiência em uma comunidade rastafári.

ROMPENDO BARREIRAS (Texto: colunista Flavio Ricco/Portal R7) 

morte de Gloria Maria, na manhã de hoje, faz cada um imaginar como será a televisão agora, depois dela.

Exagero? Claro que não.

Gloria foi alguém que, desde 1970, atravessando várias gerações, sempre esteve presente na vida de todos nós, primeiro nos telejornais e depois como repórter especial e apresentadora.

Ela rompeu barreiras. Impossível imaginar quantas. Se hoje existe uma luta pela igualdade de direitos, Gloria Maria, desde lá atrás, sempre soube levantar essa bandeira e corajosamente enfrentou todas as adversidades.

Uma vencedora, em todos os sentidos. Agiu sempre da mesma maneira também no trabalho, seja cobrindo guerras e conflitos, seja visitando lugares que a maioria das pessoas só conheceu por meio dela.

Foi também mãe. E teve nas filhas adotivas, Maria e Laura, a sua vida particular e repleta de felicidades.

E pouco falou dos seus romances. Alguns até foram conhecidos, mas nunca gostou de falar nem de ser questionada sobre a idade. Assunto que sempre foi só dela.

Ficou doente em 2019. Lutou tudo o que pôde, mas não deu. Vá em paz, Gloria. Você foi grande demais. Tchau! Glória a Maria. (Texto: Flavio Ricco/Portal R7).

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